Cerca de quatro mil índios Terena que vivem nos 2.090 hectares da terra indígena Buriti, região noroeste do Mato Grosso do Sul, também convivem com a tensão de estar na iminência de despejo das terras que retomaram em 2001. São dois motivos. Uma ação de reintegração de posse que deveria ter acontecido no início deste mês, juntamente com a tribo Guarani-Kaiowá, na terra Nhande Ru Marangatu, mas que foi suspensa a pedido do Ministério Público Federal em Campo Grande, pela desembargadora Ana Maria Pimentel, do Tribunal Regional Federal. E a ameaça dos produtores rurais que estão se mobilizando para agir pelas próprias mãos.
Segundo a imprensa local, a mobilização de força policial para os dois despejos de indígenas a ação de despejo suspensa teve um custo de R$ 200 mil para o Estado do Mato Grosso do Sul, pois a operação contaria com 160 homens das polícias Federal e Militar, um helicóptero, um avião e viaturas do corpo de bombeiros. Contudo, nova ação pode ser montada a qualquer momento. Mas a ameaça oficial é pequena, comparada à reação que os latifundiários locais que querem fazer justiça com as próprias mãos. Na edição de terça-feira, 8 de março, o jornal Correio do Estado, de Campo Grande, publicou, em texto intitulado "Produtores se preparam para defender suas terras", que "cerca de 1.000 produtores rurais podem ser mobilizados para a saída dos índios de sete propriedades rurais em Sidrolândia e Dois Irmãos de Buriti". No sábado, um dos produtores teria dito que "a intenção do grupo é retomar as áreas dos índios sem o apoio da polícia".
Histórico
Em termos de luta pela terra, os Terena de Buriti enfrentam situação semelhante à dos Guarani-Kaiowá: populações numerosas vivem em espaços reduzidos, e a busca de terras cultiváveis levou a um processo de retomadas ou de solicitações de revisão de limites de terras, para que o povo possa utilizar locais que são de ocupação tradicional, mas que ficaram fora das terras demarcadas pelo Serviço de Proteção ao Índio (SPI) nas duas primeiras décadas do século 20. Naquele momento, o SPI demarcou 10 terras Terena no Mato Grosso do Sul.
O relatório antropológico sobre a revisão dos limites da terra Buriti foi concluído em 2001 e identificou 17.200 hectares de ocupação tradicional indígena. O processo foi contestado judicialmente pelos fazendeiros e um novo Grupo de Trabalho foi criado, no âmbito da Justiça Federal, com participação de representantes dos fazendeiros na coleta de informações. O parecer deste segundo grupo manteve a identificação da área, com uma redução de 5% em relação ao primeiro estudo, de acordo com informações dos Terena de Buriti. Ainda assim, a Justiça Federal concedeu aos fazendeiros a reintegração de posse.
Em áreas retomadas da terra indígena Buriti estão sendo cultivados arroz, milho, mandioca e algodão. Nas áreas antigas, a concentração da população já não deixa espaço para plantações além dos quintais das casas. Povo de tradição agricultora, que sobreviveu trabalhando nas fazendas de gado que ainda hoje existem nas regiões de suas terras, os Terena tiveram uma estratégia de relação com os não índios que passava pela formação escolar de seus jovens (muitos deles freqüentam universidades), pela presença nos espaços onde se aplicam ou formulam políticas públicas ligadas ao povo, como na Funai, e, mais recentemente, pela eleição de vereadores Terena, incumbidos pelo povo de representa-lo no âmbito legislativo.
PIB:Mato Grosso do Sul
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