Dados do Inpe mostraram que o volume de chuvas em todo o bioma ficou 50% abaixo do normal no período de janeiro a maio, o que também colaborou para deixar o bioma mais suscetível aos incêndios.
O Pantanal mato-grossense teve um aumento de 530% nos registros de queimadas no primeiro semestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado. Os focos de calor em alta durante o período chuvoso no bioma alertam para um cenário crítico com a chegada da seca em todo o estado, época mais suscetível às queimadas.
Os dados foram obtidos a partir de uma ferramenta interativa lançada nesta quinta-feira (23) pelo Instituto Centro de Vida (ICV) para o monitoramento dos focos de calor no estado durante o período de proibição de queimadas.
A ferramenta também mostra que a antecipação do período proibitivo pelo governo do Estado não impediu um aumento de 12% no registro de focos de calor em comparação aos primeiros 15 dias de julho de 2019, quando a prática ainda estava liberada
Primeiro semestre
De janeiro a junho de 2020, foram registrados 6.747 focos de calor no estado, um aumento de quase 300 focos em relação a 2019 (com 6.450) e que contabilizou um acréscimo significativo em relação a 2018, com 4.383 ocorrências.
As queimadas no primeiro semestre foram lideradas pela Amazônia, com 60,93%, seguida do Cerrado, com 30,95%, e do Pantanal com 8,12%.
De acordo com Vinícius Silgueiro, engenheiro florestal e coordenador do Núcleo de Inteligência Territorial do ICV -- setor responsável pelo desenvolvimento do painel, o período seguiu o mesmo ritmo alarmante do ano passado, com um pequeno aumento.
"Nos preocupa e chama a atenção a questão do Pantanal. É um bioma que, proporcionalmente, queimou mais que os outros dois que cobrem o estado, que é o cerrado e a Amazônia. Então, aconteceu um aumento de 530% se comparar janeiro a junho deste ano com janeiro a junho do ano passado", disse.
Pantanal em risco
O painel mostra que o bioma Pantanal em Mato Grosso registrou um aumento de 530% nos focos de calor em relação ao mesmo período do ano anterior. De janeiro a junho, foram contabilizados 548 focos de calor no bioma. No mesmo período em 2019, foram contabilizados 87.
Dados do Inpe mostraram que o volume de chuvas em todo o bioma ficou 50% abaixo do normal no período de janeiro a maio, o que também colaborou para deixar o bioma mais suscetível aos incêndios.
Um destaque foi o Parque Nacional do Pantanal Mato-grossense, que passou de três para 99 ocorrências e figurou como a unidade de conservação com o maior índice de focos de calor no estado no semestre.
O parque está localizado em Poconé, município do estado que lidera as queimadas no período, seguido por Nova Maringá, Feliz Natal, Paranatinga e Brasnorte.
Os imóveis privados com inscrição no Cadastro Ambiental Rural (CAR) ainda respondem por 75% das ocorrências.
Em geral, o corte raso da vegetação nativa é seguido do uso de fogo para o preparo do terreno para atividades agropecuárias.
"E mesmo no período de chuva, entre janeiro, fevereiro a março, esse número de focos foi bem alto. Os registros indicam que choveu 50% a menos do que normalmente chove nesses primeiros meses do ano. Isso pode ter contribuído para que os focos de calor saíssem de controle queimasse grandes extensões de área", explicou o engenheiro.
Com o aumento de focos de calor registrados até o mês de maio, o governo de Mato Grosso adiantou o período proibitivo, iniciado no dia 15 de julho nos anos anteriores, para o dia primeiro de julho e o estendeu até 30 de setembro.
A legislação estadual vigente prevê o uso do fogo para limpeza e manejo de solo na área rural mediante a autorização de queimada controlada emitida pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema/MT).
A proibição da prática entre os meses de julho e setembro visa evitar incêndios florestais causados pela vegetação mais vulnerável durante a estação da seca e evitar danos à saúde por problemas respiratórios, em 2020 de maior risco devido à pandemia do novo coronavírus (Covid-19).
Paralelamente, no dia 16 de julho o Governo Federal decretou a proibição das queimadas no país inteiro pelo período de 120 dias para conter danos ambientais e de saúde.
No entanto, nos quinze primeiros dias do mês em Mato Grosso, já com a proibição em vigor, foi detectado um aumento de 12% em relação ao mesmo período do ano passado. Foram 754 focos de calor registrados, um aumento de 80 focos em relação a 2019, que somou 674 focos.
Dos focos, 393 foram em imóveis registrados no Cadastro Ambiental Rural (CAR), seguido de 188 em terras indígenas. Os municípios que comandam a lista são Cáceres, Nova Maringá, Tangará da Serra e Luciara.
https://g1.globo.com/mt/mato-grosso/noticia/2020/07/23/queimadas-no-pantanal-de-mt-aumentaram-530percent-em-2020-diz-instituto.ghtml
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