Amazônia ganha 1ª torre para medir gases do efeito estufa em floresta de várzea

FSP - https://www1.folha.uol.com.br/ - 23/01/2025
Amazônia ganha 1ª torre para medir gases do efeito estufa em floresta de várzea
Estrutura no Amazonas tem 48 metros de altura e diversos sensores, cujos dados devem ajudar a entender as mudanças climáticas

Everton Lopes Batista

23/01/2025

Uma nova torre foi instalada na amazônia para medir o balanço de gás carbônico e metano em uma área de floresta de várzea -que pode ficar alagada por vários meses. O equipamento, construído dentro da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, no município de Uarini (a cerca de 725 km de Manaus), entrou em funcionamento em dezembro.

A estrutura de monitoramento tem 48 metros de altura e, ao longo do comprimento, estão painéis solares, que fornecem energia para o sistema, dispositivos de armazenamento de dados e diversos sensores para coletar dados, como detectores de temperatura e radiação solar, e os analisadores dos gases metano e carbônico.

O metano, assim como o gás carbônico, colabora para a modulação do clima e para o efeito estufa. O gás carbônico é produzido na respiração dos seres vivos e na queima de combustíveis fósseis, como a gasolina. Já o metano é gerado em processos como decomposição do lixo orgânico, digestão de animais e metabolismo de alguns tipos de bactérias.

Embora as concentrações de gás metano na atmosfera sejam bem menores do que as de gás carbônico, cientistas estimam o potencial de aquecimento do metano como sendo 28 vezes maior.

Grande parte das emissões naturais de metano no planeta vem de áreas úmidas, diz Ayan Fleischmann, coordenador do projeto e pesquisador titular no Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, que é vinculado ao MCTI (Ministério da Ciência Tecnologia e Inovação). Quando a área está alagada, a água, o solo e até o tronco encharcado das árvores emitem o gás.

"Essa emissão é um processo natural de um sistema que está em equilíbrio. Assim como a floresta emite metano, ela também absorve carbono. Tirar a floresta não é uma opção para parar de emitir metano, mas esse ambiente tem particularidades que precisamos conhecer para entender o clima global", explica Fleischmann.

Segundo o pesquisador, 20 torres do tipo estão em funcionamento na amazônia, mas a estrutura da reserva Mamirauá é a primeira instalada em uma floresta de várzea do bioma.

Florestas de várzea ficam localizadas na beira de rios em planícies que podem ficar inundadas por vários meses durante as cheias. Animais e plantas que vivem nessas áreas são adaptados à variação causada pelos alagamentos periódicos.

A estrutura foi construída com financiamento da Fundação Gordon and Betty Moore. O projeto é conduzido por uma parceria entre Instituto Mamirauá, UFSM (Universidade Federal de Santa Maria) e Universidade Stanford (EUA).

O novo equipamento faz parte da chamada Rede FLUXNET-CH4, que conta com mais de 80 torres de fluxo instaladas em diferentes ecossistemas pelo mundo.

Torres desse tipo quantificam a entrada e a saída dessas moléculas no ecossistema. "A diferença entre essas entradas e saídas corresponde ao fluxo líquido de um determinado gás, o balanço. O processo físico responsável por esses fluxos entre o ecossistema e a atmosfera é a turbulência, caracterizada pelo movimento das partículas do ar causado por flutuações rápidas na velocidade e na direção do vento", explica Débora Regina Roberti, professora do departamento de física na UFSM, onde coordena o Laboratório de Gases do Efeito Estufa.

Especialista em analisar informações provenientes de torres de fluxo em áreas de produção agrícola, a cientista será a responsável pelo processamento dos dados coletados na torre de Mamirauá.

Segundo a cientista, a estrutura é capaz de fazer pelo menos dez medições por segundo das concentrações de metano e gás carbônico na atmosfera. Esses dados, somados a outras variáveis coletadas pela torre, vão compor o balanço anual dos gases do efeito estufa na floresta. A área coberta pela torre varia de 500 metros a 1 quilômetro.

O clima cada vez mais imprevisível chegou a atrapalhar a construção da estrutura. Fleischmann conta que a ideia inicial era que a torre fosse construída ainda em janeiro de 2024. "Mas a cheia, que deveria acontecer em fevereiro, veio antes e o nível do rio subiu muito rápido", diz.

Adiada para agosto de 2024, a obra sofreu novo revés. Para chegar com os materiais e equipamentos até o local da torre, são necessárias dez horas de navegação com balsas a partir da cidade de Tefé (AM). "Quando começamos a levar [os materiais] o nível do rio começou a baixar e veio a pior seca da história, o que dificultou a navegação", conta o pesquisador.

"O equipamento foi construído justamente para podermos entender melhor a rapidez das mudanças climáticas, e foram fenômenos agravados por elas que dificultaram a construção da torre", conclui Fleischmann.

https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2025/01/amazonia-ganha-1a-torre-para-medir-gases-do-efeito-estufa-em-floresta-alagavel.shtml
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