Pesquisa do Cepta constata pressão sobre peixes da bacia Araguaia-Tocantins

ICMBio - www.icmbio.gov.br - 18/12/2009
O Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Peixes Continentais (Cepta), do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), realiza desde o ano passado o projeto "Conservação e monitoramento da biodiversidade de peixes da bacia hidrográfica dos rios Araguaia-Tocantins".

O projeto é composto por três estudos: Aspectos migratórios, reprodutivos e genéticos da piraíba (Brachyplastystoma filamentosum, Pimelodidae) no ecossistema dos rios Tocantins/Araguaia; Biodiversidade de parasitos de peixes da bacia Araguaia/Tocantins: aspectos taxonômicos, ecológicos e zoonóticos; e Avaliação da dimensão espacial e temporal da diversidade de peixes em lagoas marginais presentes na APA (Àrea de Proteção Ambiental) Meandros do Rio Araguaia.

Pesquisa de campo promovida por técnicos do Cepta, entre 28 de julho a 3 de agosto, avaliou o estado de conservação e efetuou o monitoramento da biodiversidade de peixes da bacia hidrográfica dos rios Araguaia-Tocantins, particularmente no que se refere ao primeiro estudo, sobre a piraíba.

Foram efetuadas tentativas de captura de piraíbas a jusante (acima) da barragem da Usina Hidroelétrica (UHE) de Tucuruí, onde é praticada a pesca comercial. Os pescadores, em sua atividade diária, utilizam linhada de mão na modalidade caceio, pequenas canoas de madeira movidas a motores de rabeta. Já à noite a pesca é feita com redes de emalhe.

Ao todo foram analisados 61 exemplares da espécie, dos quais foram retirados fragmentos de nadadeiras caudais para análises de caracterização genética e exames parasitológicos. Em Tucuruí predominou exemplares de pequeno porte, com 72% dos peixes com menos de um metro de comprimento. "Um sério indicativo de sobrepesca", explica o chefe do Cepta Laerte Batista de Oliveira Alves.

Entrevistas realizadas com pescadores e comerciantes locais revelou que há 15 anos era rara a comercialização de exemplares de peixes de pequeno porte - 50 cm a 60 cm - na região. "De setembro a dezembro a captura da espécie ocorre eventualmente, sendo o mercado local abastecido por importação de Belém", explica Laerte.

No primeiro semestre de cada ano, as piraíbas de pequeno porte concentram-se a jusante da barragem, o que possibilita ampliação do número de exemplares coletados nos meses de março e abril. Com isso será possível ao Cepta efetuar estudos parasitológicos, como de marcação para estudos de migração e captura e transporte para formação de plantel para estudos reprodutivos.

"Com as coletas efetuadas em Tucuruí, será possível comparar a variabilidade genética dessa espécie a montante e a jusante da barragem, uma vez que a mesma em virtude do impedimento de seu fluxo migratório no ecossistema Araguaia/Tocantins e conseqüente isolamento populacional dos estoques. Permitirá, igualmente, comparar a ocorrência de parasitos da piraíba a montante e a jusante de Tucuruí", frisa Laerte.

A piraíba tem ampla distribuição na bacia amazônica. Trata-se de um grande bagre cujo habitat preferencial são os canais de rios principais, incluindo os tributários, sendo comum também em lagos e várzeas. A espécie pode chegar a 2,8 metros de comprimento.

A partir da década de 1970, com a abertura de rodovias interligando a região Norte com o Centro Oeste e Sudeste, filhotes, como são chamados os exemplares de piraíba abaixo de 60 quilos, passaram a ter valor comercial, sendo capturada na região amazônica e exportada para essas regiões.

"Mas faltaram estudos de avaliação dos estoques à época. A piraíba é um peixe migratório e, embora poucos estudos de migração tenham sido realizados com espécies de grandes bagres da Amazônia, pelo menos duas, a dourada e a piramutaba, podem realizar longas migrações em qualquer bacia hidrográfica do mundo. E isto tem implicações profundas para o manejo da pesca e programas de conservação", destaca o chefe do CEPTA/ICMBio.

Com a construção da barragem para a formação do reservatório de Tucuruí, houve uma interrupção nas vias migratórias, alterações no ciclo de vida das espécies e da composição das pescarias a jusante e a montante da barragem, afetando diretamente a piraíba.

"Este cenário tende a se agravar, uma vez que outras UHEs foram construídas e encontram-se em operação no ecossistema, como as usinas Serra da Mesa, Cana Brava e Luis Eduardo Magalhães, localizadas no Alto Tocantins e mais seis encontram-se com concessão ou em construção nos rios Araguaia e Tocantins", frisa Laerte.

E é nesse contexto que o Cepta vem realizando pesquisas com a piraíba no ecossistema da bacia hidrográfica Tocantins/Araguaia, observando, no rio Araguaia, a predominância de exemplares de grande porte, acima de 1,5m e pesos superiores a 50,0 quilos, bem como realizando coletas com o objetivo de conhecer a estrutura da população, bem como coletar material para estudos genéticos e parasitológicos.
UC:APA

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